Uma Aventura no Inverno
Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada
Arlindo Fagundes
Editorial Caminho
Coleção , nº27
304 pp
sob consulta
Resumo/Apresentação
Em vésperas de Natal há grande azáfama nos centros comerciais. As gémeas cobiçam um relógio para oferecerem ao pai, mas é muito caro e desistem de o comprar. Já na rua descobrem com espanto que o relógio apareceu no bolso da Luísa. Como explicar tão estranha ocorrência? Artes mágicas de Pai Natal? A dúvida tinha um fundo de verdade que elas e os rapazes vão descobrir pondo em risco as próprias vidas.
ISBN: 9789722105583
Excerto do Livro
«— Isto será um depósito de supermercado?
— Não me parece. Repara na maneira como as coisas estão arrumadas. Ou melhor, como não estão arrumadas!
— É verdade. Nenhum profissional atira as mercadorias ao acaso para o meio do chão.
— E há imensas peças já embrulhadas com papel bonito. Que estranho!
Ao fundo, junto de uma profusão inacreditável de sapatos de ténis, havia mais elementos perturbadores. Manequins de loja vestidos a rigor como se estivessem na montra e uma parede coberta de fatos de Pai Natal e respectivos adornos suspensos em pregos.
A contemplação foi violentamente interrompida pelo som de vozes no andar de cima. Os rapazes ficaram alerta.
— Vem aí alguém.
Chico apurou o ouvido, na esperança de que fossem as gémeas e o Pedro. Teriam resolvido juntar-se-lhes? Não podia ser. Os doberman continuavam a ladrar em desvario e decerto cairiam em cima de qualquer intruso.
— Temos de fugir — disse o João de olhos esgazeados.
— Para onde? Se sairmos os cães atacam logo.
— E se ficarmos, o que é que nos acontece?
As vozes aproximavam-se e agora ouviam-se também os passos. Quem lá vinha acabara de sair de um piso metálico para um piso de madeira.
Chico deitou a mão a um fato de Pai Natal e ordenou em surdina:
— Veste-te, pá! Enfia as barbas e tudo, vamos misturar-nos com os manequins.
Atabalhoadamente enfiaram calças encarnadas, casacos a condizer, barrete, bigode e barba. Depois pareceu-lhes mais prudente instalarem-se atrás dos manequins e tomar uma posição rígida com um braço levantado e outro descaído.
Por muito medo que tivessem, foi difícil conter o riso. E, como sempre acontece quando uma pessoa sabe que não se pode mexer, ficaram cheios de comichões. Chico sentia mil formigas pela perna acima e um formigueiro completo no nariz.
— Vou espirrar! Vou espirrar...
Com um gesto super-rápido apertou as narinas e conseguiu dominar-se. João lutava contra uma vontade horrível de tossir. Tinha os pés gelados, ansiando por movimentos. No entanto permaneceram hirtos porque ao fundo da sala surgiram dois homens com lanternas potentes.»
(in Uma Aventura no Inverno, pp. 82-83)